Qual a moral da história da humanidade? Pergunto isso pois, a moral vigente nos sistemas das sociedades contemporâneas teve a sua origem nos tempos mais remotos, aonde nossa memória infelizmente não alcança. Distância que também contribuiu para que os valores que a instituíram, e consequentemente determinaram seus conceitos e preconceitos, fossem enraizados de tal maneira que não sofressem mais análises e questionamentos.
No entanto, se analisarmos minuciosamente as falhas da nossa memória, iremos perceber que são por conta de uma forte violência sofrida ao longo da história. Com a qual os valores e conceitos foram nela embutidos. Foi assim na idade média, com as torturas em nome de Deus realizadas pela igreja, para propagar seus dogmas espirituais durante a "santa" inquisição. Assim como nos tempos de escravidão onde os valores eram enfiados por entre as costas dilaceradas dos escravos com uma chibata. E mais recentemente no holocausto onde o método para tal finalidade era o terror psicológico espalhado pelo gás nazista nos campos de concentração.
Esse estupro à memoria gerou uma consciência débil e traumatizada. Superficialmente bela, como uma camisola repleta de rendas e adereços, porém toda transparente a ponto de não conseguir encobrir a nudez enrugada que envergonha a arcaica moral vigente. A qual nunca foi capaz de vesti-la de maneira decente a ponto de seduzir plenamente o homem. Que somente aceitou ser seu marido em troca de uma falsa vida civilizada com direito a escapadinhas.
Os indícios dessa união instável são percebidos em todas as instâncias da sociedade. Acaso nunca ocorreu a uma pessoa da cor negra vestida de boné ou gorro, bermuda e chinelo ser caracterizada por suspeita pela polícia, sendo obrigada a passar por uma vexatória revista? E o que dizer do menosprezo que uma pessoa branca, vestida de roupas sociais, sofre por ser considerado um indivíduo de vida facilitada desde o berço. Falando em roupas, e as pessoas obesas que chegam a ser ridicularizadas por vendedores de lojas por não estarem em forma. As excluídas de determinados grupos por não proferirem a mesma fé. Isso sem falar das espancadas até a morte por sua opção sexual. E por aí vai.
Qual a moral da história? O preconceito é a assinatura que autentica a certidão de casamento entre o bicho homem e sua velha moral, feita por seus padrinhos vestidos de pastores e padres, de bermudas e gravatas, de meninos e meninas, de policiais e bandidos, dos tamanhos PP ao XG. Todos ansiosos por uma festa de arromba que, graças à natureza infiel do noivo, jamais acontecerá.
Sobre o filme
Baseado no livro autobiográfico "12 Anos de Escravidão", o filme conta a história de Solomon Northup, que nasceu como cidadão norte-americano por ser filho de escravos libertos. Fazendeiro, violinista e pai de família, vivia uma vida normal em sua residência em Nova York até que uma falsa promessa de trabalho o leva até Washington, onde é sequestrado e mandado para Nova Orleans. Vendido como escravo para um dono de plantações de Louisiana. Região onde ficou por cerca de doze anos escravizado, até conseguir reaver sua liberdade e voltar para junto da família.
Um filme excelente que funciona sob vários aspectos de sua produção. A começar pelo roteiro extremamente preciso que permite uma narrativa abrangente dos fatos e que flui de modo agradável, ao longo das pouco mais de duas horas de sua projeção. Isso também reflete o maravilhoso trabalho do diretor Steve McQueen que, com diversas tomadas longas e sem cortes, permite o fluir de sua história com graciosidade, ao mesmo tempo que a imprime com uma incrível veracidade (destaque para a longa cena que em uma escrava é severamente punida por seu senhor).
Toda essa precisão é também graças a um elenco de alto nível onde temos Chiwetel Ejiofor que some sobre a pele de Solomon Northup com uma atuação tão sensível e densa que beira a encarnação. Seguido pelo ator alemão Michael Fassbender que interpreta grandiosamente o conturbado senhor Edwin Epps e a novata atriz Lupita Nyong'o que dá vida a escrava Patsey com extremo brilhantismo. Não por menos os três concorrem ao Oscar nas respectivas categorias de melhor ator, ator coadjuvante e atriz coadjuvante.
Quanto a parte técnica, destaque para uma primorosa montagem que, em conjunto com um incrível trabalho de design na produção histórica dos cenários e figurino, fornecem uma fotografia precisa e delicada da época mais conturbada dos Estados Unidos. Bem como a maquiagem que está soberba (deixando sem entender a ausência de sua indicação ao Oscar), estampando veracidade pura com rostos sujos de lama e costas todas retalhadas.
No entanto, se analisarmos minuciosamente as falhas da nossa memória, iremos perceber que são por conta de uma forte violência sofrida ao longo da história. Com a qual os valores e conceitos foram nela embutidos. Foi assim na idade média, com as torturas em nome de Deus realizadas pela igreja, para propagar seus dogmas espirituais durante a "santa" inquisição. Assim como nos tempos de escravidão onde os valores eram enfiados por entre as costas dilaceradas dos escravos com uma chibata. E mais recentemente no holocausto onde o método para tal finalidade era o terror psicológico espalhado pelo gás nazista nos campos de concentração.
Esse estupro à memoria gerou uma consciência débil e traumatizada. Superficialmente bela, como uma camisola repleta de rendas e adereços, porém toda transparente a ponto de não conseguir encobrir a nudez enrugada que envergonha a arcaica moral vigente. A qual nunca foi capaz de vesti-la de maneira decente a ponto de seduzir plenamente o homem. Que somente aceitou ser seu marido em troca de uma falsa vida civilizada com direito a escapadinhas.
Os indícios dessa união instável são percebidos em todas as instâncias da sociedade. Acaso nunca ocorreu a uma pessoa da cor negra vestida de boné ou gorro, bermuda e chinelo ser caracterizada por suspeita pela polícia, sendo obrigada a passar por uma vexatória revista? E o que dizer do menosprezo que uma pessoa branca, vestida de roupas sociais, sofre por ser considerado um indivíduo de vida facilitada desde o berço. Falando em roupas, e as pessoas obesas que chegam a ser ridicularizadas por vendedores de lojas por não estarem em forma. As excluídas de determinados grupos por não proferirem a mesma fé. Isso sem falar das espancadas até a morte por sua opção sexual. E por aí vai.
Qual a moral da história? O preconceito é a assinatura que autentica a certidão de casamento entre o bicho homem e sua velha moral, feita por seus padrinhos vestidos de pastores e padres, de bermudas e gravatas, de meninos e meninas, de policiais e bandidos, dos tamanhos PP ao XG. Todos ansiosos por uma festa de arromba que, graças à natureza infiel do noivo, jamais acontecerá.
Sobre o filme
Chiwetel Ejiofor interpreta o reescravizado Solomon Northup. |
Baseado no livro autobiográfico "12 Anos de Escravidão", o filme conta a história de Solomon Northup, que nasceu como cidadão norte-americano por ser filho de escravos libertos. Fazendeiro, violinista e pai de família, vivia uma vida normal em sua residência em Nova York até que uma falsa promessa de trabalho o leva até Washington, onde é sequestrado e mandado para Nova Orleans. Vendido como escravo para um dono de plantações de Louisiana. Região onde ficou por cerca de doze anos escravizado, até conseguir reaver sua liberdade e voltar para junto da família.
Um filme excelente que funciona sob vários aspectos de sua produção. A começar pelo roteiro extremamente preciso que permite uma narrativa abrangente dos fatos e que flui de modo agradável, ao longo das pouco mais de duas horas de sua projeção. Isso também reflete o maravilhoso trabalho do diretor Steve McQueen que, com diversas tomadas longas e sem cortes, permite o fluir de sua história com graciosidade, ao mesmo tempo que a imprime com uma incrível veracidade (destaque para a longa cena que em uma escrava é severamente punida por seu senhor).
A escreva Patsey e seu senhor Edwin Epps em cena que impacta pela realidade. |
Toda essa precisão é também graças a um elenco de alto nível onde temos Chiwetel Ejiofor que some sobre a pele de Solomon Northup com uma atuação tão sensível e densa que beira a encarnação. Seguido pelo ator alemão Michael Fassbender que interpreta grandiosamente o conturbado senhor Edwin Epps e a novata atriz Lupita Nyong'o que dá vida a escrava Patsey com extremo brilhantismo. Não por menos os três concorrem ao Oscar nas respectivas categorias de melhor ator, ator coadjuvante e atriz coadjuvante.
Quanto a parte técnica, destaque para uma primorosa montagem que, em conjunto com um incrível trabalho de design na produção histórica dos cenários e figurino, fornecem uma fotografia precisa e delicada da época mais conturbada dos Estados Unidos. Bem como a maquiagem que está soberba (deixando sem entender a ausência de sua indicação ao Oscar), estampando veracidade pura com rostos sujos de lama e costas todas retalhadas.
Trabalho primoroso com o perfeito equilíbrio entre cenários, figurinos e maquiagem. |
Sem sobras de dúvida, 12 Anos de Escravidão é um dos melhores filmes de 2013. Com todos os méritos foi o grande vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme - Drama e, aparece como forte candidato em todas as nove categorias em que foi indicado ao Oscar (incluindo a de Melhor Filme). É um longa comovente e verdadeiro, capaz de levar o espectador a refletir sobre conceitos e preconceitos. Com o mérito ter ter sido um dos primeiros filmes do gênero a retratar de fato o horror psicológico enfrentado pelos escravos, nesse obscuro capítulo da humanidade.
Título Original: 12 Years a Slave
Direção: Steve McQueen
Direção: Steve McQueen
Ano: 2013
País: Estados Unidos
Gênero: Drama/Histórico
Sinopse: História real de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um escravo liberto que é sequestrado em 1841 e forçado por um proprietário de escravos (Michael Fassbender) a trabalhar em uma plantação na região de Louisiana, nos Estados Unidos. É resgatado apenas doze anos mais tarde, por um advogado (Brad Pitt).
País: Estados Unidos
Gênero: Drama/Histórico
Sinopse: História real de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um escravo liberto que é sequestrado em 1841 e forçado por um proprietário de escravos (Michael Fassbender) a trabalhar em uma plantação na região de Louisiana, nos Estados Unidos. É resgatado apenas doze anos mais tarde, por um advogado (Brad Pitt).
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